Especial mês das mulheres:Por um ambiente de trabalho mais igualitário, justo e acolhedor para as mulheres.
Pequenos passos são dados todos os dias para que um dia vivamos em um mundo igualitário para homens e mulheres. Igualdade de direitos e de oportunidades. Apesar de tudo o que conquistamos é comum vermos mulheres ocupando os mesmos cargos que os homens e ainda assim ganhando menos, mulheres que estudam mais e ainda assim não tem as mesmas oportunidades. Respeito, promoção dos direitos e protagonismo feminino, essas são algumas das bases do grupo Jacintas.
A equipe é formada por um grupo de mulheres que trabalham no governo do estado de Minas Gerais e atuam no desenvolvimento do empoderamento individual. A luta é por um ambiente de trabalho mais igualitário, justo e acolhedor para as mulheres. As Jacintas se reúnem quinzenalmente , às quartas-feiras, de 12:30 às 13:30, no Espaço Cidade Para Todas (9º andar, Prédio Gerais – Cidade Administrativa – Belo Horizonte/MG). O nome, Jacintas, foi cuidadosamente escolhido. E sua semântica, remete a uma das principais motivações do grupo. Remete ao sentir, a empatia e cria relação de repensar os direitos e condições de vida e trabalho, tanto quanto a desigualdade e violência sofridas pelas mulheres.
“Além disso, Jacinta é um nome comum, que representa a diversidade da mulher brasileira e, no plural, simboliza o nosso desejo de união. O Coletivo Jacintas é representado por toda e qualquer mulher que dele participa, de forma horizontal. Ainda que tenhamos voluntárias que se dispõe a liderar determinadas ações e discussões, as pautas são desenvolvidas e trabalhadas em conjunto.” Explica o grupo.
METROPOLI: As mulheres vêm conquistando espaço na sociedade, em todos os sentidos. Como vocês acreditam que podem contribuir para que as mulheres sejam cada vez mais valorizadas?
JACINTAS: Como coletivo, reconhecemos que, apesar da luta de nossas ancestrais na conquista de direitos políticos, sociais, econômicos e trabalhistas para as mulheres, ainda hoje enfrentamos diariamente o desafio de garantir que os mesmos sejam de fato respeitados. Almejamos a valorização da mulher, no aspecto individual, doméstico e profissional, e atuamos na promoção da equidade de gênero, por melhores condições de trabalho, igualdade de salários e oportunidades, pelo fim das violências físicas, psicológicas, veladas e explícitas, pela desconstrução dos papéis e limites que foram impostos durante muito tempo.
Como coletivo formado por mulheres que atuam no setor público, buscamos ter papel ativo na correção das desigualdades de gênero no ambiente de trabalho. Um exemplo é a situação das servidoras de determinadas carreiras que têm parte da gratificação vinculada ao desempenho. A legislação prevê que, caso a servidora ou servidor tenha menos de 150 dias de efetivo exercício no ano, sua nota na avaliação de desempenho subsequente ao período será 70 em 100 (70%), por um ano. Tal determinação legal acaba por negligenciar a situação das mulheres gestantes, considerando que a licença maternidade faz com que boa parte delas tenha sua remuneração diminuída. Apoiamos e pressionamos por uma mudança efetiva nessa condição, o que felizmente ocorreu em 2017. Hoje, para fins de remuneração, é considerada a nota da última avaliação de desempenho da servidora que, por virtude de licença maternidade, se enquadrar na situação supracitada.
M: Cite um momento de destaque do grupo.
JACINTAS : Quando começamos a nos reunir, em meados de 2016, éramos um grupo difuso, ainda sem identidade. Então, o dia em que finalmente escolhemos nosso nome, para nós, jacintas, foi bastante especial. Conseguimos encontrar uma opção que nos uniu e representou, e ficamos extasiadas de finalmente poder nos denominar como um coletivo. A verdade é que cada momento em que recebemos uma mulher, ouvimos sua história, e a acolhemos como uma das jacintas, é um momento de destaque para nós. Somos orgulhosas de colocar nossa marca no dia a dia do ambiente em que trabalhamos, de promover ações que cutucam atitudes culturalmente enraizadas e que desvalorizam e diminuem as mulheres. Uma destas ações, que nos trouxe visibilidade e retorno positivo foi a campanha “Mulher gosta de rosas!?”, em referência ao mês da mulher (março/2018). O objetivo era alertar que apesar da beleza das rosas, e de muitas de nós gostar de recebê-las, o Dia das Mulheres precisa também vir acompanhado de uma reflexão sobre as vitórias conquistadas e desafios que ainda carregamos diariamente.
M: Uma mulher importante na vida do grupo (ou mais mulheres) e porque (?)
JACINTAS : O próprio nome do nosso coletivo também foi inspirado na trajetória de luta de duas grandes mulheres brasileiras: a mineira Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, heroína que contribuiu para a mobilização e a comunicação dos revolucionários da Inconfidência Mineira, e a baiana Jacinta Passos, engajada na luta antinazista e antifascista, em movimentos pelo fim da ditadura e pela ampliação dos direitos das mulheres.
Não podemos deixar de citar também Carolina de Jesus, uma das primeiras escritoras negras do País, que conseguiu reconhecimento mesmo diante de uma sociedade desigual, que persiste discriminando, isolando e apagando minorias, e Bertha Lutz, segunda brasileira a fazer parte do serviço público no Brasil, e que lutou por mudanças na legislação trabalhista com relação ao direito feminino ao trabalho, contra o trabalho infantil, direito a licença maternidade e a equiparação de salários e direitos.
M: Para vocês o que significa ter sucesso na vida?
JACINTAS : Acreditamos que, individualmente, cada mulher tenha sua própria definição de sucesso. Mas, como coletivo, sentimos que temos sucesso sempre que uma mulher se sente representada pelas nossas falas e a ações, e decide somar conosco, atuando para que cada vez mais mulheres se sintam acolhidas, valorizadas e respeitadas.
Nosso objetivo final é um mundo em que não haja desigualdade de gênero, em as mulheres, de todas as classes, credos, raças, orientações sexuais, padrões, sejam valorizadas por suas habilidades, competências, que não sofram agressões em seus lares, no seu trabalho, nas suas relações interpessoais, e se sintam, e de fato o sejam, livres para se expressar e tomar decisões sobre suas vidas e corpos.
Fotos da campanha mais recente do grupo: Mulher gosta de rosas!?
M: Para vocês o que precisa ser feito para que o mundo seja um lugar melhor para si viver, onde todos sejam tratados com respeito por igual sem distinções?
JACINTAS :Para de fato conseguirmos um mundo melhor, precisamos focar em três palavras: empatia, respeito e conhecimento. A empatia é um conceito simples, mas difícil de ser aplicado. É se colocar no lugar do outro, compreender suas lutas, e reconhecer nossos próprios privilégios. Devemos nos desconstruir a cada dia, pois ainda temos muitas camadas de preconceito, algumas mais acessíveis, outras nem tanto, e que são barreiras na construção de um mundo mais igualitário, onde as pessoas possam ser respeitadas por serem quem são. Já o respeito, este não deve ser encarado como uma cortesia ou agrado, e sim como uma obrigação. É essencial que possamos conviver com as diferenças, ainda que não possamos entendê-las. Não cabe a ninguém julgar uma realidade a qual não vive.
Por fim, apenas através do conhecimento podemos formar opiniões, compreender o passado, vislumbrar o futuro. A ignorância faz mais vítimas a cada dia. Vivemos num contexto onde as pessoas disseminam informações muitas vezes incorretas, como se fossem verdade absolutas, sem o cuidado de ao menos pesquisar a veracidade do que está sendo dito. O conhecimento é uma arma para acabar com todas as fobias e discriminações que vivenciamos, e reproduzimos.
M: Deixem uma Mensagem para todas as mulheres;
JACINTAS : Nosso desejo é que toda mulher possa enxergar em si a dona de seu próprio destino. Que possamos enxergar na outra uma irmã, e lutarmos até que todas sejamos atrizes da própria história. Não aceitaremos mais que nos digam onde estar, como nos comportar, o que vestir, onde trabalhar, quem devemos amar.
Mulher: empodere-se, ame-se, apoie outras mulheres, conheça suas histórias! Juntas somos mais, juntas somos fortes, juntas somos livres.
Para conhecer um pouco mais do grupo acesse o facebook ou faça contato através do e-mail:
Contato: facebook.com/coletivojacintas