“Queremos aproximar a sociedade da administração do hospital”

“Queremos aproximar a sociedade da administração do hospital”

Entrevista com o Diretor Geral do Hospital Nossa Senhora das Graças, Cléber Amorin.

Os números do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) impressionam. Ele emprega 830 funcionários, tem uma folha de pagamento mensal de R$ 1.270.000,00 para garantir o atendimento de Sete Lagoas e outros 34 municípios. Na entrevista a seguir o Diretor Geral, Cleber Amorim prova que uma tabela de repasses altamente defasada do SUS, redução em repasses e queda na utilização de planos de saúde pelo cidadão comprometem muito a operacionalização da instituição. Medidas emergenciais estão sendo tomadas e a divulgação da real situação está sendo revelada para mostrar à sociedade que manter o hospital de pé é uma ação que precisa da união de forças.

 

Qual a real situação financeira do HNSG atualmente?

Cleber Amorim – A situação não é diferente da maioria das entidades filantrópicas do país. Atualmente o Sistema Único de Saúde (SUS) responde por cerca de 70% de atendimento em algumas áreas e em outras este percentual atinge 90%. A tabela do SUS não é atualizada há mais de 15 anos e não paga o custo real dos procedimentos. Sem contar o aumento do custo inflacionário hospitalar que é muito mais alto do que o normal, dissídios coletivos e outras despesas.

Todo mês nosso caixa fecha no vermelho, com déficit de cerca de R$1 milhão.

 

Existe algum caminho para aliviar este grave problema?

Cleber Amorim – Como o SUS não consegue cobrir o custo dos procedimentos, as entidades começaram a recorrer à saúde suplementar. Só que, nos últimos anos, estes convênios reduziram muito. O HNSG teve, nos últimos meses, uma redução de quase 40% nesses convênios. Isso não vem da má prestação de serviço, mas do empobrecimento do cidadão, das famílias que desistem dos planos de saúde. Eles passam a depender do SUS e continuamos com o mesmo nível de atendimento.

 

É possível ilustrar como esta tabela do SUS prejudica a instituição?

Cleber Amorim – Posso citar o custo da nossa UTI. O custo por paciente chega R$ 1.700 por dia e, se olharmos para o SUS, somando o que a União, Estado e Município repassam, conseguimos chegar, no máximo, a R$ 1.217. A diferença tem que ser coberta. Mesmo com isenções, possibilidades de adequações e convênios, a conta não fecha. Com isso, as entidades filantrópicas têm que recorrer ao mercado financeiro. Chega-se no limite dos financiamentos e não existem condições de cumprir os compromissos.

 

Qual o principal objetivo dessa proposta de externar a realidade financeira?

Cleber Amorim – Estamos apresentando os números reais do HNSG não com intenção de assustar a população ou criar comentários de sua possível insolvência. Queremos mostrar o custo real de se produzir saúde em uma instituição filantrópica. Queremos aproximar a sociedade da administração do hospital.

 

Além da tabela SUS o que mais compromete o balanço mensal do hospital?

Cleber Amorim – Cerca de 60% do valor do déficit vêm de compromissos com o mercado financeiro. O HNSG chegou no limite de capacidade para requerer novos empréstimos. Já iniciamos a renegociação com os bancos para dilatar o prazo de pagamento e a redução no valor das parcelas. A única forma de continuar é reduzindo serviços ou racionalizando os custos. Não estamos demitindo em massa ou suprimindo serviço, mas nos últimos meses conseguimos reduzir cerca de R$ 86 mil na folha de pagamento. Isso unificando setores, reduzindo cargos na operação e os possíveis na assistência. Em hospital, vale ressaltar que temos um limite técnico para toda redução.

 

Como está a relação do HNSG com o a Prefeitura?

Cleber Amorim – Muito próxima. A Prefeitura tem feito seus pagamentos nas datas corretas. Porém, na renovação do contrato entre 2016 e 2017 houve uma redução média de R$ 150 mil no valor. Também não foram aplicados os índices inflacionários nesta nova negociação. Concordamos com esta continuidade porque os pagamentos estão sendo feitos em dia. A gestão anterior deixou um débito de R$ 1,3 milhão e estamos negociando com a atual este acerto.

 

E a relação como o Estado?

Cleber Amorim – É uma situação um pouco mais grave. Ele tem feito alguns repasses, mas temos cerca de R$ 1,2 milhão pendentes de programas já realizados. Mesmo quando não temos reembolso de caixa, mantemos o serviço.

Quais os planos do HNSG para diminuir este déficit comprometedor?

Cleber Amorim – O objetivo do HNSG é diminuir custo, racionalizar setores e gerar receita para cobrir esta redução de repasse do poder público. A possibilidade de fechar serviços é real, mas estamos trabalhando para captar recursos. O HNSG não consegue cobrir a tabela do SUS que é altamente defasada e não tem receita suficiente de convênios. Chegou o momento de a sociedade contribuir com esta provisão de gratuidade de serviços. Por isso estamos mostramos os números, promovendo a transparência para conhecimento de todos. Também estamos mostrando nossas ações de gestão. Muito se fala em má gestão, mas é impossível produzir saúde com R$ 3 milhões a menos no seu caixa. Sem cobrir o custo dos procedimentos fica difícil.

Cleber Amorim, natural de Belo Horizonte, casado, tem três filhos. Graduação em Sistema de Informação e Administração. Trabalha há 19 anos na área hospitalar e no setor privado trabalhou nos hospitais Vera Cruz, Lifecenter e Mater Dei. Foi superintendente do Hospital da Baleia e Diretor Geral do Hospital de Ibirité. É Diretor Geral do Hospital Nossa Senhora das Graças há cinco meses.

 

 

 

 

Renato Alexandre/Jornal SETE DIAS

Categories: Destaque, Sete Lagoas

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