O “não aprender” & a medicalização das infâncias

O “não aprender” & a medicalização das infâncias

Crianças que não param quietas, que perguntam muito, que se distraem com estímulos externos, que gritam e sorriem sem motivo aparente, que parecem viajar em seus pensamentos… Crianças que não aprendem.

  • Alguém já ouviu algumas dessas colocações?
  • Seriam estes sintomas de alguma doença ou mesmo,   seriam motivos para as crianças não aprenderem?

Tornou-se comum ouvirmos em diversas situações, na clínica ou em espaços escolares, a queixa sobre o “não aprender” ou o “mau comportamento da criança” e por vezes, uma angustiante busca por um diagnóstico e tratamento médico.

Na contemporaneidade há uma amplitude de informações e orientações acerca de como tratar do “problema da criança”, há uma facilidade enorme para encontrar um rótulo que encaixe os sintomas apresentados pelos pequenos sujeitos.

Mas, há perguntas que precisamos nos fazer:

O que é uma criança?

Como a criança aprende?

O que a criança tem a dizer?

Quais reações e comportamentos são próprios das infâncias?

Há claro, adoecimentos infantis que necessitam de tratamentos médicos específicos e há sintomas apresentados pelas crianças que precisam ser considerados como um pedido de ajuda, que por vezes são uma demonstração de um conflito não possível de verbalizar por elas.  A dificuldade em aprender, o comportamento diferente, a reclusão, a quietude ou inquietude, tudo pode ser manifestação de alguém que busca ser percebido, que quer ocupar seu espaço no mundo.

Pois bem, a medicalização das infâncias é a transformação de questões próprias dessa fase ou dificuldades surgidas em suas con’vivências sociais em problemas médicos/patológicos, desconsiderando o sujeito criança em sua subjetividade.

O trabalho lúdico com estímulos específicos, partindo de uma escuta ética das queixas infantis pode desvelar a alegria em ser CRIANÇA, com todo seu fio de vida.

A psicopedagogia se propõe a tratar as questões das infâncias e da adolescência, pois traz implicações para que a clínica do sujeito aconteça a partir da escuta de sua demanda, fundamentada na ética de um tratamento sem moldes, garantindo à criança e ao adolescente possibilidades de se inserir no universo do desejo de aprender. Na clínica psicopedagógica as intervenções acontecem levando em conta a singularidade e o discurso do paciente, proporcionando a ele condições para minimizar suas dificuldades de aprendizagem, oportunizando sua inclusão escolar e social.

Alynni Barbosa
Psicopedagoga

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